Guia prático sobre dislipidemias

Prevalência das dislipidemias e riscos à saúde associados

O Dia Nacional de Combate ao Colesterol neste mês, visa a conscientização para a atenção à prevenção e ao tratamento destas, uma vez que são altamente prevalentes na população e podem impactar de forma expressiva na qualidade de vida, já que elas são os principais fatores de risco para doenças cardiovasculares e outras doenças graves em outros sistemas orgânicos, incluindo doença hepática gordurosa não alcoólica e pancreatite aguda. Segundo um estudo brasileiro, conduzido por Valença et al. (2020), mais de 64% de uma amostra de 884 adultos apresentavam alterações no colesterol e/ou triglicerídeos.

Quais são os principais tipos de dislipidemias?

As dislipidemias podem ser determinadas geneticamente (dislipidemias primárias ou familiares) ou secundárias a outras condições (como diabetes mellitus, obesidade ou estilo de vida pouco saudável), sendo as últimas mais comuns.

Estudos epidemiológicos prospectivos de longo prazo têm mostrado consistentemente que pessoas com estilos de vida mais saudáveis ​​e menos fatores de risco para doenças cardíacas coronárias, e particularmente aquelas com perfis lipídicos favoráveis, reduziram a incidência de doenças cardíacas coronárias. A prevenção e o manejo adequado da dislipidemia podem alterar marcadamente a morbidade e mortalidade cardiovascular.

Segundo a Sociedade Brasileira de Cardiologia (2019), existem 4 principais categorias de dislipidemias:

Hipercolesterolemia Isolada: aumento isolado do LDL-c ≥ 160mg/dL

Hipertrigliceridemia Isolada: aumento isolados dos TG ≥ 160mg/dL ou ≥ 175mg/dL, se amostra for obtida sem jejum

Hiperlipidemia Mista: aumento do LDL-c ≥ 160mg/dL e dos TG > 150mg/dL ou ≥ 175mg/dL, se amostra for obtida sem jejum. Se TG ≥ 400mg/dL, considerar a hiperlipidemia mista quando o colesterol não HDL ≥ 190mg/dL

Hipoalfalipoproteinemia: redução do HDL-C (homens < 40mg/dL e mulheres < 50mg/dL) isolada ou associada ao aumento do LDL-c e/ou de TG.

 

Manejo nutricional das dislipidemias

Não somente as dislipidemias secundárias, mas as dislipidemias familiares também podem ser moduladas através de intervenções do estilo de vida, como observado na literatura científica: Kinnear et al. (2021) demonstrou que alterações dietéticas e aumento do exercício físico em adultos e crianças com diagnóstico de dislipidemia familiar, proporcionou redução de 10% e 8%, respectivamente, na LDL-c.

Ainda, estudos na literatura, confirmam que a adição de esteróis vegetais tem um efeito na redução do colesterol de pacientes com hipercolesterolemia familiar, sendo que a dosagem recomendada é de cerca de 2g/dia. Ainda, a suplementação de ácidos graxos ômega-3 (EPA+DHA) reduz efetivamente os triglicerídeos e pode ter um papel na redução do colesterol de pacientes com hipercolesterolemia familiar (Barkas et al., 2020)

Ainda, o consumo de alimentos com alto teor de gorduras trans e saturadas, além de carboidratos simples, com alto índice glicêmico, impactam negativamente nos níveis de lipoproteínas e triglicerídeos séricos e dessa forma, devem ser substituídos por carboidratos mais complexos e por gorduras mono e poli-insaturadas (Folwaczny et al., 2021; SBC, 2019; Askari et al., 2021).

Outro ponto importante é o aumento do consumo de alimentos ricos em fibras, como farelo de aveia, se associa com a melhora do perfil lipídico, tanto por contribuir de forma direta na redução da absorção de colesterol dietético, quanto por favorecer a modulação da microbiota intestinal, a qual impacta de forma expressiva no desenvolvimento das dislipidemias, uma vez que o intestino atua influenciando no metabolismo hepático, na absorção de colesterol e na síntese de metabólitos microbianos intestinais importantes na homeostase do colesterol (OYNOTKINOVA et al., 2020; SOUZA et al., 2019).

Com cada vez mais benefícios realçados pela literatura científica atual, a escolha de uma padrão alimentar plant based, tipicamente ricoem frutas, vegetais, grãos, legumes e nozes, enquanto limitam ou evitam produtos de origem animal, se relacionam com menores níveis de IMC e LDL-C, além de outros marcadores de risco cardiovascular, juntamente com uma menor incidência de mortalidade. Isso porque esse perfil alimentar promove maior consumo de fibra, carboidratos, potássio, magnésio, folato, ácidos graxos poli-insaturados, ferro não heme e vitamina C do que os não vegetarianos.

É importante ressaltar que alguns nutracêuticos vêm ganhando destaque na modulação do perfil lipídico, como extratos de bergamota, berberina, extrato de folha de alcachofra e arroz fermentado vermelho.

 

Referências

ANAGNOSTIS P, et al. Management of dyslipidaemias in the elderly population-A narrative review. Maturitas. 2019 Jun; 124:93-99.

PIRILLO A, et al. Global epidemiology of dyslipidaemias. Nat Rev Cardiol. 2021 Apr 8. d

BARKAS F, et al. Diet and Cardiovascular Disease Risk Among Individuals with Familial Hypercholesterolemia: Systematic Review and Meta-Analysis. Nutrients. 2020 Aug 13;12(8):2436.

FOGACCI F, BORGHI C, CICERO AFG. Diets, Foods and Food Components’ Effect on Dyslipidemia. Nutrients. 2021 Feb 26;13(3):741.

CICERO A.F.G., FOGACCI F., ZAMBON A. Red Yeast Rice for Hypercholesterolemia: JACC Focus Seminar. J. Am. Coll. Cardiol. 2021; 77:620–628. doi: 10.1016/j.jacc.2020.11.056.

ZHUBI-BAKIJA F., et al. The impact of type of dietary protein, animal versus vegetable, in modifying cardiometabolic risk factors: A position paper from the International Lipid Expert Panel (ILEP) Clin. Nutr. 2021; 40:255–276.

SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA (SBC). Atualização da Diretriz Brasileira de Dislipidemias e Prevenção da Aterosclerose – 2017. 2019. Disponível em: https://sbc-portal.s3.sa-east-1.amazonaws.com/diretrizes/Pocket%20Books/2019/Atualiza%C3%A7%C3%A3o%20da%20Diretriz%20Brasileira%20de%20Dislipidemias%20e%20Preven%C3%A7%C3%A3o%20da%20Aterosclerose%20%E2%80%93%202017.pdf Acesso em 09 ago. 2021.

FOLWACZNY A, et al. Postprandial Lipid Metabolism in Normolipidemic Subjects and Patients with Mild to Moderate Hypertriglyceridemia: Effects of Test Meals Containing Saturated Fatty Acids, Mono-Unsaturated Fatty Acids, or Medium-Chain Fatty Acids. Nutrients. 2021 May 20;13(5):1737.

SOUZA, M.L.R.; BAPTISTELLA, A.B.; PASCHOAL, V. Nutrição Funcional: Nutrientes aplicados à prática clínica. Valeria Paschoal Editora: São Paulo, 2018.

OYNOTKINOVA OS, et al. Changes in the intestinal microbiota as a risk factor for dyslipidemia, atherosclerosis and the role of probiotics in their prevention. Ter Arkh. 2020 Oct 14;92(9):94-101.

SIKAND G, SEVERSON T. Top 10 dietary strategies for atherosclerotic cardiovascular risk reduction. Am J Prev Cardiol. 2020 Nov 19;4:100106.

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